quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Tenha raiva da raiva

Delusões servem unicamente para nos prejudicar. No Guia do Estilo de Vida do Bodissatva, Shantideva diz:
Inimigos, tais como ódio e apego,
Não têm braços, nem pernas
E tampouco são dotados de coragem e habilidade;
Logo, como conseguiram fazer de mim seu escravo?

Vivendo em minha mente,
Me prejudicam a seu bel prazer
E, apesar disso, sem raiva, eu pacientemente os suporto.
Que vergonha! Não é hora de ter paciência.

Normalmente, consideramos como inimigos aqueles que nos prejudicam, mas nossos verdadeiros inimigos são as delusões, como ódio e apego, que vivem dentro de nós. Embora não possuam corpos físicos e não estejam armadas, elas são capazes de nos controlar e atormentar continuamente. Não convém sermos pacientes com as delusões, porque, nesse caso, elas nos causarão sofrimentos ainda maiores."

---
Do livro "Entender a Mente - Uma explicação da natureza e das funções da mente", de Geshe Kelsang Gyatso.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

De novo no banho

E como se lembrou de que tudo é impermanente nesta vida, passou a fazer corações no vapor do box do banheiro em absolutamente todos os banhos. O amor se refaz a cada dia.

Voltei

Não porque tenha mudado de planos. Mas tenho ainda muito a refletir. E sentir. E postar aqui.

Vamos lá.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

sempre quase

Essa coisa de tentar ser budista não combina mesmo muito comigo. O nome do blog já começa com "Eu". E esse "eu" anda cheio de desejos, necessidades, vontades, ambições, coisas que não combinam com a tentativa de ser budista. Quando puder, vou meditar sim, equilíbrio é imprescindível. Mas agora preciso de muita energia mundana capitalista selvagem pra realizar todas as COISAS que quero. Quero, quero, quero. Matéria. Sim. Matéria. E outras cositas mais. Tô indo atrás. Momento nada zen. Um dia eu volto.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Os mantras

A linha budista que eu sigo tem uns cânticos bem bacanas. Alguns são repetidos em todas as aulas e servem como preparação pra entrar no "mood" da meditação. Você vai ouvindo e cantando junto, baixinho, ouvindo a própria voz, repetindo e esquecendo de todo o resto. As letras são em português. A voz da moça que canta no cd é bem bonita, me lembra a da Nara Leão no disco dos Saltimbancos. No começo eu achava tudo bem engraçado e tinha vontade de rir. Achava piegas, aquela coisa bem oriental respeitosa ao extremo, sabe? Uns termos que soam engraçado e lembram outras palavras, mas no fundo é bem bonito. Alguns cânticos são cantados só algumas vezes e eu gosto tanto de algumas frases, que tenho vontade de levantar, subir no altar, pegar o microfone da mão da monja e até fazer uma coreografia. Já pensou como seria um budismo carismático!? Errr... Pensando bem, eu não só pensei, como já fui a um templo desses. Respeito, mas não é pra mim. Vamos deixar pra lá essa empolgação. Meditação é coisa séria e os cânticos servem para resumir os ensinamentos em frases curtas e que entrem de verdade na nossa cabeça.

O fato é que eu já decorei a maioria dos cânticos e mantras. E achei tão bacana o que a Monja disse hoje sobre automatizar as coisas. Ela disse que uma pessoa que fica velha, começa a perder a memória de fatos recentes, mas lembra direitinho como dirigir ou como tocar aquela canção ao piano. E que tudo o que a gente automatiza fica pra sempre na memória. E que os ensinamentos budistas têm que se entranhar assim na vida da gente. Que têm que entrar na mente, no corpo, no automático. E que na hora da nossa morte, nem sempre a gente vai ter consciência pra pedir, pra rezar, mas se os cânticos estiverem automáticos na gente, eles vão surgir na hora, sem esforço e que isso é muito, muito auspicioso para nossas próximas vidas. Gostei muito disso.

Sem dor

Finalmente consegui ir meditar pela primeira vez neste ano. A monja disse que tem gente que fica 3 meses sem ir ao templo e, quando ela pergunta o que houve, as pessoas dizem "nossa, a senhora não sabe quantos problemas enfrentei nesse período". Ela acha isso estranho, porque o Budismo serve justamente para nos livrar do sofrimento, ou seja: é quando temos problemas que devemos procurar o equilíbrio...

Comigo não, monja. Eu não vim esse tempo todo porque está tudo ótimo. Tudo tão maravilhoso que chega a dar medo. Tudo tão lindo que você sabe, eu sei, nada é permanente nessa vida. Então eu voltei, mesmo estando tudo bem. O equilíbrio também serve pra não deixar o êxtase da alegria cegar a gente, pra lembrar a gente de botar o pé no chão quando quer sair flutuando por aí. Sim, é claro que eu gostaria de continuar flutuando forever, mas não dá.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Aqui, agora

Eu não sei até onde isso vai. Eu não sei o que vai acontecer. O carnaval chegou e tudo pode rolar pra distanciar ou aproximar. O que importa é o que isso está causando nesse momento. Amanhã não existe, o ontem já passou. Estou feliz e isso tem todo o valor que pode ter no dia de HOJE.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

no banho

desenhou corações no box, com o vapor.
depois jogou água, apagando todos eles.
ela se lembrou da impermanência das coisas.
todas elas.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Por que é legal ser quase-budista?

Ser budista é meio chatinho. Por exemplo: a partir do momento em que você aprende que todas as suas ações têm consequências, passa a analisar cada pensamento, cada emoção, e isso pode ser extremamente desgastante, afinal, você vive ao lado de humanos e sentir é humano.

Vamos supor que você consiga aplicar esse pensamento à sua rotina. Por isso, passa a não dar corda aos sentimentos nocivos, que dão aquele nó horrível no estômago e a vontade de unhar a cara de alguém. É claro que, mais cedo ou mais tarde, você falha e acaba tendo algum tipo de atitude condenada por esse pensamento. Você se sente pior ainda por saber que dessa porcaria que você fez, sentiu ou pensou, algo muito ruim vai brotar, seja aqui, agora, na próxima vida ou na outra. Algo pior ainda acontece: a culpa por agir contra você mesma! Então você deixa de manifestar algumas opiniões só pra não se desgastar e gerar raiva no seu interior e nos outros. E pára de pensar tanto também, o que tem o seu lado não tão bom. Surpreendentemente, fica tudo bem. Tudo bem, mas morninho, morninho.

Aí, evoluindo um pouco nos estudos, você realiza que nada existe da maneira que nós vemos. Que é tudo uma ilusão, que vemos as coisas de forma equivocada... Tudo perde um pouco da graça, do brilho, do viço. Afinal, se nada é desse jeito, é de qual!? Não importa. O que importa é que pensar dessa maneira ameniza os fatos negativos do nosso cotidiano, mas empalidece os positivos também. Não tem extremos, é tudo no caminho do meio, certo?

Você se vê tão preenchida com aqueles valores e aquela paz, que se acomoda na sua vidinha. Entende que tudo o que se passa na sua vida tem algum motivo, alguma semente que você plantou em alguma vida passada, boa ou ruim, se manifestando agora. Aceita, simplesmente. Nem beber, você bebe mais. Não precisa. Olha que coisa boa.

Mas você convive com seres cheios de amor extremado, ódio exacerbado, apego indomável pelas ideias, coisas e pessoas, verdadeiras montanhas-russas ambulantes, assim como você sempre foi. E você tenta não entrar nessa onda emocional: nem se joga no poço da amargura, nem se anima muito com nada. Até que uma barata aparece no seu quarto e você tem que matá-la. Pronto: todas as boas sementes plantadas com o seu esforço em ser uma pessoa equilibrada vão por água abaixo. Muito difícil, não?

Então resolvi adotar o quase-budismo para viver. Aceitando algumas coisas e duvidando de outras, eu não me comprometo, mas também não surto. Controlo um pouco as reações, não entro em qualquer briga, mas não deixo de ganhar uma disputa saudável e necessária, vivendo no caminho do meio, não o do budismo, mas aquele entre o budismo e a vida mundana. E ainda me divirto.

Pode ser conveniente demais, mas é assim que eu estou pensando durante esse meu afastamento das aulas de meditação. Só volto depois do carnaval. Até lá, vou viver tudo, sem restrições, com todas as emoções a que tenho direito. As boas e as ruins, pacote completo, porque assim é mais legal.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Planos profissionais para 2010:

- trabalhar BEM menos;
- ganhar BEM mais;
- ter BEM mais prazer no trabalho.
Ou seja: em 2010, eu só quero o BEM.
Isso não é quase budista?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

2mileDANCE

Ano novo, vida nova, e eu, quase nada budista.

Primeira tarefa búdica do ano: praticar o desapego. Esquecer que os ladrões entraram na casa dos meus pais depois do Natal e que, entre tudo o que levaram, incluíram o notebook que eu usava enquanto morava lá, com todas as fotos tiradas desde 2002. Esquecer que não havia back-up. Esquecer que eles levaram os únicos dois anéis de ouro branco que eu tinha e que não tirava dos dedos e que, numa inédita prática de desapego, havia esquecido lá, duas semanas antes. O bom é que os dedos ficaram.

Segunda tarefa búdica do ano: praticar a paciência. Esquecer que passei mais de 15 dias viajando e tendo uma vida. Lembrar que vida é essa, a real, que a gente leva no resto do ano: acúmulo de trabalho, noites sem dormir, contas para pagar e casa pra cuidar.

Terceira tarefa búdica do ano: meditar. E meditar sozinha, porque o templo está em recesso. Até a monja tira férias!