sábado, 28 de novembro de 2009

Desejos

Foram 5 meses sem sofá, recebendo as pessoas com dois mini pufes e o chão duro pra sentar. Foi o moço da reforma das poltronas me dizendo, no dia da entrega, que não havia o tecido que eu queria. Foi uma andança em Buenos Aires pra ver se encontrava um tecido bom, bonito e barato. Pior foi voltar de mãos abanando. Foi uma luta interna pra vencer o preconceito e criar coragem de ir à 25. Foi uma difícil escolha, tão difícil que eu voltei pra casa com 4 tecidos diferentes. Foram longos dias de espera e foi muita sorte do moço eu ter perdido o telefone dele. Foi uma surpresa quando ele me ligou dizendo que as poltronas estavam prontas. Foi um longo processo de reforma das poltronas e elas finalmente estão aqui, na minha sala. Ficaram lindas. Conseguiram ficar melhor do que a minha mente extremamente criteriosa poderia supor. Fiquei sentada cerca de 40 minutos em uma delas, namorando a outra. E vice-versa. Agora elas estão aqui. O desejo foi realizado.

E eu me lembrei da monja dizendo que certa vez ela precisava muito de uma geladeira. E não se conformava com o fato de não ter uma geladeira. E vivia frustrada, incomodada com a falta da geladeira. E fez que fez que conseguiu uma geladeira, meses depois. E quando a geladeira chegou, ela ficou feliz um dia e, nos outros, nem notava que a geladeira estava lá. Não acordava todos os dias pensando "uau, eu tenho uma geladeira, como sou feliz!!!". O desejo nos perturba por tanto tempo, e o prazer em realizá-lo passa tão rápido.

Mas viver sem desejar não seria uma perda de tempo? Não é essa angustiazinha - essa coisa de querer, batalhar e realizar - o que nos move? No final das contas, a vida não é o caminho? A felicidade não é o processo todo? Viver sem desejar não seria deprimente?

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Vacuidade negativa

Anti-verão

Nem dormir
Nem acordar
Não quero estar

Nem sair
E nem ficar
Não quero falar

Nem sentir
ou ignorar
Não quero existir

Isso é depressão
Que coisa mais anti-verão
O mal que eu padeço
Não combina nada com essa estação

Quero sair do chão
Sem ter que pular
Não quero estar
Não quero ir

Não quero mais chorar
Nem quero rir
Não quero nada
E esse nada quer me engolir

domingo, 15 de novembro de 2009

Faxina por fora

Seria ridículo ir para um templo de meditação no interior de São Paulo, sendo que a minha casa está um pardieiro. Por isso, cancelei o passeio. A faxina por dentro não exclui a faxina por fora. A casa está de pernas pro ar e a minha mente até que me parece ok hoje. Por isso, preferi cuidar da casa.

Mesmo assim, enquanto organizo o guarda-roupas, boto em ordem os pensamentos. O que não serve mais, a gente passa pra frente. O resto fica mais arejado. E o espaço para as coisas novas está aberto.

Trocar a roupa de cama, lavar o que está sujo, recolher as roupas do varal, tirar o pó, varrer o chão, cuidar das plantas. Cada coisa equivale a outra. É só pensar um pouco e casa e mente ficam preparadas e fresquinhas para começar a semana.

Beijos e bom dia!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

TPM: Tem Pra todo Mundo (até para as budistinhas)

É duro tentar ser budista durante a TPM. Já é uma sensação ao acordar. É uma falta de vontade de viver, que chega a dar desespero. E tudo o que você construiu durante a semana pode estar por um fio. A paciência que você teve com a menina do telemarketing da Eletropaulo, mesmo depois dela desligar o telefone na sua cara, logo depois de cortarem a luz da sua casa indevidamente; o ódio que você conseguiu abrandar pela ex-inquilina que, insatisfeita com seu nome ainda na conta, resolveu que pedir pra desligar a luz da sua casa seria muito mais bacana do que te ligar e pedir pra você transferir a conta para o seu nome, mesmo com todas as contas pagas.

Fui tão paciente, cheguei até a rir da situação. Um desapego enorme, olha que coisa linda! Até torci pra luz não voltar porque é gostoso dormir no escurinho, sem luzinha verde de modem, tv a cabo e computador piscando. Achei bom ficar sem internet por 2 noites. Li à luz de velas e dormi como um anjinho... E todo mundo está notando o meu progresso, a minha alimentação saudável, a minha disposição em ter uma vida, em tentar sair cedo do trabalho, em ir ao parque, andar de bicicleta dois dias seguidos. Fora a tolerância que aumentou, e muito... Mas tudo isso pode ter sido coisa do passado. Já senti que a temida chegou. E o pior:

- hoje é sexta-feira 13 e
- eu tenho o casamento de um primo em São Caetano do Sul, às 19h30, ou seja: cabelo, roupa, maquiagem, um trânsito de 3 horas e eu com certeza não chego para pegar a cerimônia.

Mas vou tentar pensar que nada existe do jeito que a gente vê.
Vou tentar harmonizar minha mente.
Vou tentar não deixar os ventos internos me apavorarem.
Vou pensar "amor, amor, amor, amor, amor", não na cabeça, mas no chacra cardíaco.

E vou à labuta, que não é uma luta. É um meio de vida. É o que eu tenho, quero e sei fazer. Não há motivo para pânico. É só um trabalho, com pessoas que devo respeitar e que estão lá fazendo a mesma coisa que eu. Nada de ser histérica, irônica, crítica demais ou intolerante.

Bom dia.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Quase é quase nada.

Mas quase nada já é alguma coisa. E quando digo que sou quase budista é porque eu ainda não estou tão certa disso. Nem sei há quanto tempo eu frequento uma sala de meditação. Houve uma tentativa há alguns anos, algumas visitas esporádicas, uma retomada forte no início deste ano, 2 retiros e algumas faltas: falta de disciplina, falta de vontade, falta de vergonha na cara, falta de tudo isso junto e mais um pouco e olha eu indo meditar depois de quase um mês.

É assim mesmo. Vou vivendo com o meu trabalho enlouquecedor, minha cabeça que não para (sem acento!), não para, não para não, meus vícios, fraquezas, costumes, manias e apegos e, no meio de tudo isso, às vezes, eu medito. Muitas vezes eu não consigo, outras, apenas tento, e na maioria das vezes eu simplesmente nem tento e nada é obrigatório nem permanente nessa vida.

Mas toda vez que eu consigo, a cabeça continua cheia, mas parece que fica tudo mais organizadinho, cada coisa em seu lugar, sabe? É como no dia em que a faxineira vem em casa... Tudo limpinho, cheirosinho e arrumadinho. Tá, às vezes ela cisma de mudar as coisas de lugar, deixa os livros de ponta cabeça, mas é bem assim que eu volto da meditação. Organizada e mexida. E até acostumar com as novidades da faxina leva um tempinho. Mas, aos poucos, a gente acostuma.

E enquanto eu acostumo e vou assimilando onde fica cada coisa, onde se encaixa cada pensamento, como funciona cada sensação, preciso matutar muito. Escrever ajuda bastante. E compartilhar, ajuda mais ainda.

Foi pra isso que criei este espaço: pra dividir os reflexos da filosofia budista na minha vida com quem estiver a fim. E se, com a minha tenra experiência búdica aqui divulgada, eu puder plantar uma sementinha de darma, nossa, como vai ser bom.

E como sou iniciante e vou dizer - sem qualquer compromisso com qualquer linha ou local de meditação - tudo o que eu quiser (questionamentos, inclusive), prefiro não vou divulgar o nome do local que frequento, nem a linha budista. Aqui é a minha mente trabalhando. São os meus pensamentos a respeito do que vejo e as consequencias do que ouço, leio, assimilo e aprendo. E pensamento não carece de censura ou ajuste à qualquer regra, não é mesmo? O que eu posso fazer, em respeito a Buda e aos ensinamentos, é tentar não dizer muita besteira. E só.

Sendo assim, está inaugurado o "Eu, quase budista". Até breve.