sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Por que é legal ser quase-budista?

Ser budista é meio chatinho. Por exemplo: a partir do momento em que você aprende que todas as suas ações têm consequências, passa a analisar cada pensamento, cada emoção, e isso pode ser extremamente desgastante, afinal, você vive ao lado de humanos e sentir é humano.

Vamos supor que você consiga aplicar esse pensamento à sua rotina. Por isso, passa a não dar corda aos sentimentos nocivos, que dão aquele nó horrível no estômago e a vontade de unhar a cara de alguém. É claro que, mais cedo ou mais tarde, você falha e acaba tendo algum tipo de atitude condenada por esse pensamento. Você se sente pior ainda por saber que dessa porcaria que você fez, sentiu ou pensou, algo muito ruim vai brotar, seja aqui, agora, na próxima vida ou na outra. Algo pior ainda acontece: a culpa por agir contra você mesma! Então você deixa de manifestar algumas opiniões só pra não se desgastar e gerar raiva no seu interior e nos outros. E pára de pensar tanto também, o que tem o seu lado não tão bom. Surpreendentemente, fica tudo bem. Tudo bem, mas morninho, morninho.

Aí, evoluindo um pouco nos estudos, você realiza que nada existe da maneira que nós vemos. Que é tudo uma ilusão, que vemos as coisas de forma equivocada... Tudo perde um pouco da graça, do brilho, do viço. Afinal, se nada é desse jeito, é de qual!? Não importa. O que importa é que pensar dessa maneira ameniza os fatos negativos do nosso cotidiano, mas empalidece os positivos também. Não tem extremos, é tudo no caminho do meio, certo?

Você se vê tão preenchida com aqueles valores e aquela paz, que se acomoda na sua vidinha. Entende que tudo o que se passa na sua vida tem algum motivo, alguma semente que você plantou em alguma vida passada, boa ou ruim, se manifestando agora. Aceita, simplesmente. Nem beber, você bebe mais. Não precisa. Olha que coisa boa.

Mas você convive com seres cheios de amor extremado, ódio exacerbado, apego indomável pelas ideias, coisas e pessoas, verdadeiras montanhas-russas ambulantes, assim como você sempre foi. E você tenta não entrar nessa onda emocional: nem se joga no poço da amargura, nem se anima muito com nada. Até que uma barata aparece no seu quarto e você tem que matá-la. Pronto: todas as boas sementes plantadas com o seu esforço em ser uma pessoa equilibrada vão por água abaixo. Muito difícil, não?

Então resolvi adotar o quase-budismo para viver. Aceitando algumas coisas e duvidando de outras, eu não me comprometo, mas também não surto. Controlo um pouco as reações, não entro em qualquer briga, mas não deixo de ganhar uma disputa saudável e necessária, vivendo no caminho do meio, não o do budismo, mas aquele entre o budismo e a vida mundana. E ainda me divirto.

Pode ser conveniente demais, mas é assim que eu estou pensando durante esse meu afastamento das aulas de meditação. Só volto depois do carnaval. Até lá, vou viver tudo, sem restrições, com todas as emoções a que tenho direito. As boas e as ruins, pacote completo, porque assim é mais legal.

2 comentários:

  1. Oi Renata, tudo bom?
    Acho que ser quase-budista é o primeiro passo para ser budista por completo! rsrs
    Afinal, quando começamos a ser budistas nem sempre temos afinidade por todas as práticas, e acabamos dando preferência àquelas que têm mais a ver conosco.
    Mas acho que a principal questão decorrente da prática é que, com o passar do tempo, ela se torna natural; automatizada mesmo, como você colocou no seu outro post.
    Então, não precisamos mais analisar cada pensamento, cada emoção, cada situação para agir; as ações virtuosas tornam-se naturais, intrísecas, como parte de nossas características mesmo.
    E quando a gente erra - o que invariavelmente vai acontecer - não nos sentimos culpados; reconhecemos o erro, purificamos e seguimos adiante. Afinal, é superando as adversidades que vamos nos aprimorando, não é?
    Um grande abraço e valeu pela iniciativa!
    Joana - uma quase-budista como você!

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  2. Oi, Joana! Que bom que gostou... Volte sempre! bjs,

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